21
Dec 09

Poema Processo

Está no ar o site Poema Processo realizado pelo grupo PLACE coordenado por Rogério Camara e com apoio do CNPq. Participaram  do projeto Hugo Cristo, Priscilla Martins, Lívia Rimolo e Ivan Cosenza. Contamos com o acervo e toda atenção dos poetas Wlademir Dias-Pino, Neide de Sá e Regina Pouchain.
Site visa divulgar o movimento de mesmo nome, ocorrido na poesia de vanguarda brasileira, inaugurado, formalmente, em dezembro de 1967 e encerrado com o Manifesto de Parada Tática em 1972.
Liderado pelos poetas Álvaro de Sá, Neide Sá, Moacy Cirne e Wlademir Dias-Pino, o movimento pretendia-se inovador ao propor um desmonte nas formas estabelecidas de criação de um poema. Aderiram ao grupo poetas de todo o país e publicou-se de maneira mais expressiva nos estados do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Norte.


23
May 09

Cartografia V – Transsibérien

transssiberienBlaise Cendrars e Sonia Delaunay, 1913

Em 1913 Blaise Cendrars publicou “La prose du Transsibérien et de la petite Jehanne de France”, que ficou também conhecido como “Le premier livre simultané”. Transsibérien se refere à estrada de ferro inaugurada em 1905 ligando a Rússia Ocidental ao Pacífico e, de certo modo, alude a todas as estradas que estavam sendo construídas pelo mundo estreitando os espaços, permitindo viajar em velocidade “meteórica”.

A obra é impressa numa única folha de papel de mais de dois metros dobrável. A reunião de todos os 150 exemplares atingiria a altura da Torre Eiffel. O trabalho teve a colaboração da pintora Sonia Delaunay, o que foi assim creditado – “cores simultâneas de Mme Delaunay-Terk”. Um conjunto de massas de cores puras, saturadas, intensas como a vida na era da eletricidade. Vibrações, dinamismos, distorções do espaço e do tempo. Um poema de viagem, mas que desfoca o trajeto, costurando outros tempos e espaços.

Simultâneos, também, a cor e o texto – verbovisual. A lógica plena da palavra em linhas que flutuam e se perdem entre a luz. Como quando se fixa o olhar nas chamas do fogo. Assim Cendrars descreve seu poema “(…) uma experiência única em simultaneidade, escrita em cores contrastantes a fim de levar o olho a ler de um só golpe de vista o conjunto do poema”


31
Jan 09

Weingart: arquitetura e tipografia

weingart1

Montagem de imagens extraídas do livro Typography de Wolfgang Weingart

O tipógrafo suíço Wolfgang Weingart seguindo a tradição construtiva na tipografia, retomaria, nos anos sessenta, a observação sobre a arquitetura clássica. Mas, desta vez, ele não buscaria a precisa harmonia estrutural destas construções e sua simplificação final em linhas horizontais e verticais. Ele abandona o conceito dado a essas obras e, lança um olhar especulativo sobre a superfície, observando suas desfigurações, suas pequenas modulações, suas texturas. O interesse se volta ao estado de ruína, aos fragmentos resultantes das diversas ações do tempo.

Weingart investigava a passagem da composição mecânica à fotocomposição, da impressão tipográfica (relevo) ao offset (plana). A tipografia caracteriza-se pelo espaçamento fixo, pelo absoluto controle da disposição dos elementos e pela regularidade dos tipos, já o offset pela possibilidade, em função da planificação de todos os elementos que integram a página, de uma de interação complexa e plástica entre texto e imagem. No offset a imagem é dissolvida em reticulas e recomposta por interpolações dos pontos. Não por acaso as paisagens traduzidas por Weingart em tipografia são templos e cidades em processo de dissolução, ou os espaços pueris dos desertos, que se movimentam a cada lufada de vento.

No bojo das tradições do estilo internacional Weingart operou a desconstrução da tipografia e dos paradigmas da legibilidade.


28
Jan 08

Da caligrafia: ocidente/oriente

Rogério Camara, 2002

A invenção da imprensa não faria desaparecer a caligrafia. Ao contrário, a imprensa favoreceria o aprendizado da escrita e da leitura. O homem letrado deveria apresentar uma caligrafia de traços firmes e elegantes. Isto é causa já discutida. Mas, pelo que sugere a imagem acima, a necessidade da bela escrita não foi abandonada no mundo das imagens calculadas. Aproveito a deixa, não para justificar o proposto no lambe-lambe (que concorra ao curso quem quiser), extraído nas ruas de Vitória-ES, mas para divagar sobre o caráter visual de nossa escrita face ao oriente.

A escrita alfabética por suas características solicita a manutenção da linha durante uma seqüência de gestos até corporificar a palavra. A permanência do contato da pena sobre o papel força a estreita proximidade entre a mão, o instrumento e o suporte. Apóia-se sobre o papel. Cola-se o olho no trilho. A atenção ao espaço gráfico cede à concentração dedicada ao curso da linha. Temporalização.

No Oriente manteve-se, desde os primórdios, o uso do pincel e de outros instrumentos naturais de escrita. O calígrafo oriental, aos modos da pintura, busca a plasticidade mais pura e a relação espacial dos elementos e, diferente da pintura, a marca de cada gesto é definitiva e não pode ser velada. O domínio do pincel inicia-se no aprendizado da escrita, antes do seu uso na pintura. Os movimentos dos traços são entrecruzados e não contínuos. Na escrita oriental, cada ideograma evidencia-se como uma totalidade relativa, figurando-se no espaço. Com isso, no Oriente a caligrafia ultrapassa os limites da escrita, pois liberta o signo do sentido preciso do contexto verbal, tornando-o impreciso, equívoco, plástico. Ao final aprecia-se a composição dos elementos e as ocorrências de casualidades. Espacialização e configuração.

No Ocidente abandonou-se o pincel e outras ferramentas primárias à procura de instrumentos que possibilitassem traços mais precisos e padronizados, favorecendo a legibilidade. Os modelos que inspiram o manuscrito são as gravações em pedras. O estilete, o estilo. A rigidez do cálamo e da pena convém à formação do caractere retilíneo e esquemático. O talhe da pena é determinante na conquista do valor construtivo e consciente do desenho.


17
Jan 08

sosreversos

Fragmentos de Sosreversos, Rogério Camara ,1996

Rever, Augusto de Campos,1970

Comecemos por falar do título deste blog.

Quando iniciei minhas pesquisas sobre a poesia visual brasileira em 1996, realizei alguns poemas gráficos muito influenciados pela poesia concreta. Pude publicá-los em 1997 em livro de minha autoria intitulado Tipográficos com impressão serigráfica e edição limitada.

O poema Sósreversos, que integra este livro, é uma releitura do poema Rever de Augusto de Campos publicado originalmente no livro Equivocábulos (1970) em folha solta de acetato transparente. Uma única palavra que se espelha.

Sósreversos segue o mesmo princípio de espelhamento. No entanto, o núcleo de letras da palavra-título desdobra-se por doze pranchas quadradas formando outras palavras e frases (só o/eve/os reversos/só rever/sósreversos/o reverso…) e estas aparecem relacionadas a um determinado símbolo (de homem, mulher, relação, gestação, etc.). Veja os exemplos acima.