30
May 08

Auto Retrato

Auto Retrato, Rogerio Camara, 1997

30
Apr 08

Laerte II

Laerte_FSP 199?

30
Apr 08

O mundo do gozo

Assistimos nos anos noventa à reformulação de diversas marcas de instituições bancárias. Já comentamos aqui a respeito da nova marca da Vale. Falávamos que hoje a concepção do símbolo de uma empresa não procura necessariamente relacionar-se ao objeto ou ao produto. Não se trata mais de dizer o produto, mas fazer o símbolo fluir no universo do consumidor. Seus significados podem em algum momento congelar-se e em outro dispersar-se, passar de uma forma a outra, por negações e associações. Formas esvaziadas que aspiram a ser. Relações de imagens que inspiram o devir do consumidor. Sintaxe relacional: ideografias.

Antes, no caso dos bancos e instituições financeiras em geral, convivíamos com marcas que nos passavam a idéia de que o nosso dinheiro estava bem guardado em algum cofre inviolável. Algo físico e sólido como o cofre do Tio Patinhas. Precisávamos guardar para garantir nosso futuro, a lógica do mundo da poupança. A marcas seguiam esse pressuposto: o logotipo sólido, com serifas pesadas como a do Bradesco, o preto e laranja (cores de segurança) do Itaú, as imagens de correntes das seguradoras, etc.

Hoje vivemos no mundo do crédito, goza-se hoje e paga-se quando puder. As marcas destas instituições passam a estar associadas ao prazer imediato e cotidiano. Sugerem que ninguém precisa se ocupar do dinheiro. O banco é o seu banco. O banco é você, seu nome está na marca, o objetivo é preencher o seu universo, seu dia a dia feliz com amigos ou com sua família. Faz-se acreditar que há uma entidade abstrata que o protege, com um pedaço de plástico tudo podemos. Observem a leveza do logotipo atual do Bradesco e seu símbolo que num instante protege seu filho alegre num balanço e em outro garante o mundo de qualquer dano. Em empresas de crédito como o Mastercard a operação é clara. Por sobreposições o símbolo – intercessão de dois círculos, representado de forma semelhante a um gráfico escolar de conjuntos, a priori vazios e sem sentido – é associado a outras imagens, inscrevendo o ideal de liberdade e prazer. A forma esvaziada de significados deixa-se associar a qualquer contexto mundano. O status do ato de consumir: duas barracas de praia, duas bolas de sorvete, um par de pés pro alto vestidos confortavelmente com sandálias, duas cabeças que se tocam.

Não se trata mais de um sistema de identidade visual, no sentido de pré-determinar o uso da marca e as regras estritas de inscrição, mas sua inserção no cotidiano e no inconsciente.


17
Mar 08

Cartografia IV

“Eis agora a questão fundamental de qualquer atlas: de que é que se deve traçar um mapa? Resposta evidente: dos seres, dos corpos, das coisas… que não conseguimos conceber de outro modo. Porque é que, com efeito, nunca desenhamos as órbitas dos planetas, por exemplo? Uma lei universal prevê as suas posições: de que é que nos serviria um roteiro neste caso de movimentos e situações previsíveis? Basta deduzi-los da lei. Pelo contrário, não há qualquer regra que prescreva o recorte dos rios, o relevo das paisagens, a planta da aldeia onde nascemos, o perfil do nariz ou a impressão digital do polegar…Aí estão singularidades, identidades e indivíduos, infinitamente afastados de qualquer lei.” (Michel Serres. Atlas)


14
Mar 08

a dura poesia concreta numa esquina de vitória

Giacomin, Rogério Camara, Vitória, ES, 2003

Emoldurada do céu que tende à grandeza do infinito e encarcerada entre postes, fios, gatos, alhos e bugalhos. Do ambulante que faz das laterais dessa parede sua vitrine. O vão evidente e o concreto aparente emprestando a forma mutável da reformável legis de uma inscrição urbana.

O que a antropogeografia mostra, são sucessivos desgastes de energias na busca de novos padrões. Formas ainda rígidas, de projetar, construir, organizar e vivificar a cidade.

Estabelece-se o fluxo, o afluxo. Dividem-se setores para atividades as mais diversas e avança-se na descoberta de novos materiais que não só revolucionam o processo de construção, como a cada momento transformam a maneira do empilhamento dessa massa supostamente amorfa que deveria dar vida, cor, movimento e geração de atividades em cadeia a essa urbe que, pensada dessa maneira, não passa da estabelecida e fria projeção de Mercator, onde linhas retas possuem intervalos fixos sem adaptatividade ou interferência. Talvez se possa arriscar, ignorantemente, a marcar tal teoria como uma vertente geratriz do discurso do fluxo, do entrever, do devir, da deriva e da virtualidade, dando, ao espectro criador, um sentido ilimitado de perpetuidade.

A cidade caminha e é adaptada pelo seu vivente. Esse objeto humano age, corrói, se aglomera, pratica a mercancia, trafica, mete medo, constrói entre, forma novas estruturas de abrigo e rompe como uma geóclase. Tudo o que não pode ser visto, mas que acaba comandando uma nova ordem de discurso social, compondo esse novo puzzle do inevitável que engolfa e recria a receita projetada sem o saber dos arquitetos, que se digladiam solitariamente a cada imposição de mudança.

Equação mais difícil e intricada, pois a cidade é essencialmente produtora de vazios. Já o ninguém, não produz vazios, nem silêncios. Ele forma a turgescência que faz pensar novamente a cidade, a textura da urbanicidade.