18
Feb 09

Praça da Soberania em Brasília

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Projeto da Praça da Soberania, Oscar Niemeyer, 2009

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Simulação de realização do projeto, Correio Braziliense, 2009

Em janeiro o arquiteto Oscar Niemeyer propôs para a cidade de Brasília um novo monumento a ser exposto na Esplanada dos Ministérios. Trata-se de uma solicitação do presidente Lula que resultou na praça da Soberania composta de uma escultura de 100m de altura (o congresso tem 92m)  e um Memorial dos Presidentes. A possibilidade da construção da obra resultou numa discussão sem precedentes  que não cabe detalhar aqui, pois está bem documentada na internet. Os artigos de Niemeyer dizem muito sobre um arquiteto que pensa o projeto como um deus a gerenciar a vida coletiva.  Projeta “desinteressado nas opiniões que surgem”1 segundo suas próprias palavras. As suas defesas apresentadas ao projeto são maniqueístas, arrogantes e num certo sentido contraditórias. Propõe mais uma grande área coberta de cimento inabitável e, no entanto, escreve:

“Os que contestam qualquer modificação em Brasília, se fossem mais curiosos e interessados no que ocorre neste velho planeta, saberiam que um dia — como os cientistas prevêem — as calotas polares poderão derreter mais rapidamente, elevando o nível dos oceanos a mais de dois metros. E aí, meus amigos, o que mais importa não é uma imposição como a que eu vinha comentando, mas a própria natureza a intervir em todas as áreas litorâneas, exigindo da arquitetura e do urbanismo as soluções indispensáveis.
“E vou mais longe. A degradação ambiental começa a se agravar, determinando um dia, quem sabe, que as grandes áreas abertas venham a ser arborizadas, e que as coberturas de concreto, previstas na maioria dos edifícios, sejam também transformadas em terraços-jardim cobertos de grama.
“E fico a refletir sobre o texto que acabo de escrever, certo de que a vida, o progresso humano e a própria ciência justificam as grandes modificações que a arquitetura e o urbanismo vêm propondo em toda a parte.”2

Meu interesse aqui não é ampliar a discussão em torno do projeto, pois esta já se esgotou no tempo e com o cancelamento de sua execução por iniciativa do próprio arquiteto. Afinal ele “mais do que qualquer um, estava em condições de propor essa praça” e, por sua vez retirar a proposta.

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Projeto de Burle Marx para Esplanado dos Ministérios publicado no Correio Braziliense 31/01/2009

Gostaria de chamar atençãopara o projeto desenvolvido, mas infelizmente não realizado, por Burle Marx.  Embora oportunamente resgatado pela jornalista Graça Ramos no Correio Braziliense (Caderno C – 31/01/09) o projeto nem ganhou repercussão nesta polêmica. Se a praça proposta por Niemeyer serviria de paisagem e exposição de poder, mas não como local de estada, convivência e passagem o parque de Burle Marx nos oportunizaria uma relação orgânica, plenamente habitável, com o espaço. O parque iria da Rodoviária ao congresso e conteria um grande lago que “em função da diferença de nível, seria dividido em pequenas barragens de onde a água desceria, para formar um verdadeiro véu e contribuir para melhorar sensivelmente o microclima do entorno. No último segmento, toda água excedente seria filtrada e aproveitada nas instalações do Congresso Nacional.”(KAMP, Renato. Burle Marx) Contaríamos com uma variada vegetação e gamas de cores e uma pista sinuosa pela qual poderíamos caminhar e andar de bicicleta tomando o cenário sobre diversas perspectivas. Quem já experimentou se deslocar da Rodoviária a um ministério sabe bem a diferença que este espaço faria.

Não tenho dados a respeito dos motivos que levaram a não execução do projeto de Burle Marx, mas é sabido dos atritos que ele tinha com Niemeyer que considerava a presença de árvores uma barreira a livre observação de sua arquitetura. Ao nosso maior arquiteto interessa a perspectiva dos prédios onde estão instaladas as instituições de poder, e privilegiar a sua “arquitetura simbólica”. Na perspectiva do Eixo Monumental, se perfilam os ministérios, lado a lado, antes encabeçado à direita pela catedral, que traduz em sua arquitetura um ato de união de mãos elevadas em saudação e, o Congresso que verticaliza-se no ponto de fuga desse grande corredor de poderes formando à frente dos diversos palácios,  o polo disseminador de decisões políticas irrefutáveis e irrecusáveis, atuando como o fiel da balança. Brasília é uma cidade sem áreas de convivência, sem esquinas, endurecida pela arquitetura, embora se vanglorie dos 100 m2 de área verde que possui por habitante. Essa falta de favorecimento do processo de sociabilização e de humanização dos meios, estabelece uma grande dificuldade do espaço Brasília se constituir como cidade. Seu projeto, enfim, peca por não considerar as transformações no processo evolutivo, sendo impermeável aos anseios de seus habitantes.


18
Feb 09

Kit Bebezão Kit Feijãozinho

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Rogério Camara,  SãoLuis,  2001


31
Jan 09

Weingart: arquitetura e tipografia

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Montagem de imagens extraídas do livro Typography de Wolfgang Weingart

O tipógrafo suíço Wolfgang Weingart seguindo a tradição construtiva na tipografia, retomaria, nos anos sessenta, a observação sobre a arquitetura clássica. Mas, desta vez, ele não buscaria a precisa harmonia estrutural destas construções e sua simplificação final em linhas horizontais e verticais. Ele abandona o conceito dado a essas obras e, lança um olhar especulativo sobre a superfície, observando suas desfigurações, suas pequenas modulações, suas texturas. O interesse se volta ao estado de ruína, aos fragmentos resultantes das diversas ações do tempo.

Weingart investigava a passagem da composição mecânica à fotocomposição, da impressão tipográfica (relevo) ao offset (plana). A tipografia caracteriza-se pelo espaçamento fixo, pelo absoluto controle da disposição dos elementos e pela regularidade dos tipos, já o offset pela possibilidade, em função da planificação de todos os elementos que integram a página, de uma de interação complexa e plástica entre texto e imagem. No offset a imagem é dissolvida em reticulas e recomposta por interpolações dos pontos. Não por acaso as paisagens traduzidas por Weingart em tipografia são templos e cidades em processo de dissolução, ou os espaços pueris dos desertos, que se movimentam a cada lufada de vento.

No bojo das tradições do estilo internacional Weingart operou a desconstrução da tipografia e dos paradigmas da legibilidade.


31
Dec 08

Um novo ano

Bom, parece que o ano de 2008 se encerra. Foi bom, mas espero um 2009 ainda melhor. Desejo a todos miluma felicidades neste novo ano!


22
Dec 08

Vitória ES

Neste mês de dezembro deixei de morar em Vitória no Espírito do Santo, onde lecionei por 6 anos na Universidade Federal. Isto me remete, com alguma nostalgia, às primeiras impressões que tive desta cidade.
Minha primeira noite na cidade foi em um Hotel com vista para a praia de Camburi. Do lado esquerdo da praia se via, ao longe no horizonte, o porto de Tubarão, que fica em um dos extremos da estrada de ferro Vitória-Minas e nele os navios são carregados de pelotas de minério. Pelotas que são produzidas numa usina localizada na área do porto a partir do minério bruto que chega de Minas. No outro extremo da praia, do lado direito, uma pequena ilhota, na qual se encontra uma pequena casa.
Vi, assim, de um lado, um cenário próximo ao de uma cidade dos tempos da era industrial no qual se evidenciava o seu principal agente de emprego e produção: no caso a Companhia Vale do Rio Doce com chaminés e grandes navios. A fumaça vindo em nossa direção indicava o sentido do vento e, mais tarde pude observar a quantidade de minério que respirávamos. Uma espécie de ato de distribuição de renda da Vale. Minério para todos!
A ilhota no outro extremo representava, por sua vez, algum isolamento ou elo com um tempo mais longínquo, com se ali estivesse quieto o Robson Crusoe.
Vitória parece ser uma cidade compacta e portátil. Algo que poderia, a qualquer momento, ser carregada pelos imensos cargueiros que se agigantam na paisagem e se colocam a duas braçadas de distância. Do mesmo modo tive a impressão de poder dar um tapa nos aviões que passavam sob minha cabeça. O eco dos portos dia e noite no coração da cidade e o ronco das turbinas dos aviões me faziam imaginar uma cidade que se projetava sempre para além dela, desarraigada. Juntava-se a isso a dificuldade de encontrar na cidade pessoas que tenham nela nascido. Em seus mais de 460 anos Vitória parecia não ter gerado filhos. Talvez por esta sensação de desterro e de falta de identidade encontremos, como por reação, reiteradamente espraiada nas páginas dos jornais locais a palavra ‘capixaba’. O lugar que me parecia sem lugar reagia sempre afirmando o seu lugar.
A escala me permitiu transitar no tempo da bicicleta e do passo. Transformar caras em rostos. Ir da massa abstrata às pessoas.